22 de abril de 2018

Eu explico...e se for necessário até faço um desenho...

Anda por aí um burburinho por causa das forças policiais e militares que se preparam para uma mega manifestação na primeira quinzena de maio.

Que é só regalias, privilégios,  que não fazem nada, rebéubéu pardais ao ninho...

Pois eu, como mulher e mãe de militar, e ainda por cima professora, sinto-me tudo menos uma privilegiada.

Não, não somos sanguessugas da nação. De facto são os contribuintes que nos pagam, mas deixem-me dizer-vos com todas as letras: ainda nos pagam pouco. Muito pouco para o serviço que nós prestamos à nação.

É que isto de ser militar, ou  mulher e mãe de militar e, ainda por cima, professora, é estar ao VOSSO serviço 24 horas por dia, 7 dias por semana, o ano inteiro,...uma vida inteira, na verdade.

Aos 48 anos já passei as passas do Algarve à conta dos serviços que prestei a esta nação.
Comecei por namorar à distância, passei uma gravidez praticamente sozinha, o meu filho quase nascia sem que o pai pudesse estar presente.

O meu filho cresceu a ver partir o pai constantemente. Uma semana, duas, três, um mês, três meses, seis meses seguidos.

A viver longe de familiares próximos, sem qualquer tipo de suporte, era uma correria para sair da escola e ir buscá-lo a horas decentes e fazer tudo o que uma mãe e mulher normalmente tem de fazer.

Não ter ninguém que fosse sequer comprar pão ou leite, acordar de noite com ele a chorar, doente, e ter que ir sozinha para o hospital mais próximo.

Passar semanas de coração apertado enquanto o marido navegava nos submarinos obsoletos que tínhamos. Vê-lo chegar cheio de roupa imunda, a tresandar a gasóleo dos submarinos que não tinham sequer condições para a tripulação tomar banho. Com a pele macilenta de quem andou semanas a respirar ar impróprio para a saúde humana, cansado do regime de cama quente que significa dormir num saco-cama no máximo durante 4 horas e dar lugar ao colega seguinte, que também precisa de descansar um bocadinho.

A solidão, as saudades, as angústias, as correrias, o tempo roubado à vida em família, a saúde que se perdeu,...em resultado dessas horas, dias, semanas, meses, anos a fio...

Aliado a isso, ser professora, passar mais tempo com os VOSSOS filhos do que com o meu, trazer trabalho para fazer em casa e não ter tempo para lhe dar atenção, muitas vezes, nem ao fim-de-semana.
 
Ter que passar anos a trabalhar longe da área de residência, umas vezes levando o filho comigo, uma das vezes ter que o deixar para não ter que lhe interromper o percurso escolar no primeiro ciclo.

Ter 26 anos de serviço, mas não saber o que é ter uma carreira desde 2004. Ter visto o ordenado diminuir quando a crise estalou, ter a fama de estar novamente a ganhar o mesmo, mas olhar para a folha de vencimento e ver que ganho mais ou menos o mesmo que ganhava em 2002/2003. E isso a multiplicar por dois, porque a folha de vencimento do marido está em igualdade de circunstâncias.

Saber que teria de trabalhar até aos 70 e tal anos para atingir o topo da carreira docente...
Enfim.

Não há privilégio nenhum que pague isso. Nenhum!

Não me quero fazer de coitadinha. Nada disso. Bem sei que há vidas piores e mais difíceis ainda.
 
 
Mas PAREM de estar sempre  uns contra os outros!
 
Devíamos estar todos mais unidos, em vez de andarmos nesta luta entre função pública e privados.

Não se esqueçam que se o estado não der o exemplo, os privados também não vão tratar bem os seus empregados.

Todos os direitos tirados à função pública...nunca serão dados aos trabalhadores no privado. Nunca.

Fiquem a aplaudir os direitos que nos tiraram, fiquem,...mas podem tirar o cavalinho da chuva, pois quando as coisas para nós vão mal,...para vocês vão de mal a pior.

 

6 comentários:

  1. Respostas
    1. Pois claro. Tinha de vir um comentário desses. E a julgar pela conjugação do verbo, nota-se que não valoriza, nem nunca valorizou o trabalho de um professor.

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    2. Esta pessoa que escreveu o comentário mais acima, este anónimo, deve ser um dos cobardes da nação.
      A Isabel escreveu muito bem, parabéns! O teu texto está maravilhoso e espelha a verdade que muitos não querem ver porque são umas verdadeiras amebas neste país sem respeito e princípios.

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    3. Infelizmente neste país cada um só pensa no próprio umbigo. Muitas vezes ignorando que estão a dar um tiro no pé.
      E depois há quem se esconda atrás de um computador, sem sequer ter coragem para dar a cara pelo que diz/escreve. Há algum tempo já que vou recebendo algumas mensagens anónimas desagradáveis. Na maioria das vezes opto por nem publicar. Desta vez achei que fazia sentido deixar passar...
      Apeteceu-me responder.

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  2. Principalmente os professores a trabalhar 22 horas por semana...

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    1. Eu que sou apreciadora de futebol e para não lhe complicar a vida, respondo-lhe de uma forma muito simples. Achar que um professor só trabalha 22 horas é o mesmo que pensar que um jogador de futebol só trabalha 90 minutos por semana (que é o tempo que está em campo durante um jogo,...).

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